Tudo começou em uma noite qualquer, durante um longo jantar, quando meus pais, José Carlos e Ângela, começaram a conversar sobre a possibilidade de ter um vinho próprio. O papo nada mais era do que um plano distante de enófilos, à primeira vista, inatingível. Um sonho. E assim, com muitos rabiscos em um guardanapo de papel, nasceu o nome Amariano, junção do A inicial do nome da minha mãe e do sobrenome Mariano, pelo qual meu pai é conhecido, e o único que todos os membros da família possuem. Confesso que houve momentos em que até pensaram em procurar terras no sul do Brasil para tentar viabilizar a ideia, mas nada que saísse do pensamento para o material.
Algum tempo depois, durante uma sessão de fisioterapia – a vida escrevendo certo por linhas tortas – meu pai conheceu o Emerson de Almeida, que lhe contou sobre a então recente compra de um vinhedo num empreendimento chamado The Vines of Mendoza. Muito interessado, e com um sentimento diferente crescendo dentro de si, meu pai procurou saber mais detalhes de como conhecer o mesmo. Ficara definido: meus pais iriam à Mendoza em busca de algo mais concreto sobre o lhes parecia bastante utópico.
Chegando ao Valle de Uco, foram recebidos com imensa hospitalidade - todos os paradigmas e preconceitos brasileiros quanto aos “eternos rivais” argentinos foram estraçalhados. Tomando uma taça de espumante, sentados na cabaña original, à beira de um pequeno lago, e cercados por uma vista espetacular dos Andes, a The Vines of Mendoza lhes foi apresentada. Em sequência, foram convidados a saborear um típico asado argentino, literalmente em meio às vinhas, com vinhos já produzidos no local. Saíram surpreendidos, com uma decisão de vida para tomar.
De volta ao Brasil, depois de passar por um horrível terremoto em Santiago, ter muitas conversas com a família, e de muito pensar sobre o futuro, decidiram dar uma chance ao sonho. Em julho de 2010 concretizaram a compra do vinhedo, decidindo plantar as varietais Malbec e Syrah. Desde o início estávamos cientes de que nosso terreno demoraria cerca de 3 anos para começar a produzir uvas próprias para a vinificação, o que nos fez tomar uma decisão super importante para o Amariano: comprar uvas de outro proprietário e já começar a produzir vinhos, inicialmente (2011 e 2012), um Malbec Super Premium.
Na vindimia seguinte, meus pais levaram a família para conhecer a região e para participar do começo de tudo. A partir daí, o negócio se tornou um assunto de família, um sonho conjunto, formado por vários pedacinhos de cada um dos membros. A família participa de todos os processos da produção do nosso vinho, da escolha do que plantar, à colheita e seleção manual das uvas, até o corte e engarrafamento. A marca foi criada pela família, o rótulo, a escolha do estilo do vinho, seu modo de vinificação, sua personalidade. Sujamos nossas mãos, ficamos com dor nas costas e provamos inúmeros goles críticos e analíticos. Nossas bocas ficam meladas de tanto “roubar” uvas nos pés, o paladar se torna perspicaz, e a alma gratificada por cuidar pessoalmente de nossas crias.
Mendoza se tornou uma parte de nós, um lugar que tem aquele sentimento de lar, com pessoas amigas e queridas, que nos tratam como velhos conhecidos. Somos cercados de profissionais altamente competentes e seguros do que fazem. Eles acreditam como nós que é possível tornar nosso sonho realidade. Uma equipe formada por indivíduos incríveis, os quais acredito podermos ter o privilégio de chamar de amigos.
Até então já produzimos 4 safras, com a primeira, o Amariano Malbec 2011, sendo introduzida no mercado brasileiro no final de abril de 2014. Nosso especial vinho carrega consigo 18 meses em barricas de carvalho, 18 meses em garrafas e muita esperança, amor e cuidado. Ainda é um pouco cedo para dizer o que o mercado acha do nosso vinho, mas uma coisa posso dizer com certeza e muito orgulho: a emoção de ver a surpresa no rosto das pessoas que o bebem é indescritíve!