GLOBAL HOME WINERY

The Vines of Mendoza

The Vines Blending Session Experience

·

Eu não sou alguém que gosta de pensar demais na hora de escolher o meu vinho. Não fale comigo por horas sobre notas de amora e sobre como eu deveria sentir o aroma daquele Merlot com mais profundidade, ou sobre como eu deveria examinar a cor exata do meu Cab Franc no que parece durar séculos antes de poder sequer tomar um gole. Eu não quero uma experiência científica fria e calculista, eu quero poesia. Eu quero o riso que acompanha uma garrafa de vinho e é apreciado com uma boa companhia. Eu quero guardar a rolha de momentos realmente especiais para me recordar de como eu me senti quando bebi um vinho específico - não para me lembrar que ele era levemente adstringente e deveria ter sido idealmente consumido a 2 graus de temperatura mais quente. Com isso em mente, eu estava com um pouco de receio de entrar em uma aula de mistura de vinhos das mais completas. Eu sentia que o meu tempo poderia ser melhor aproveitado sem culpa na banheira ao ar livre do The Vines desfrutando de uma taça de Malbec do que criando uma em um laboratório.

Eu estava enganada. Ao brincar e aprender pessoalmente como misturar não só um vinho, mas o meu vinho, eu aprendi a me conectar com ele e a apreciá-lo de uma forma que nunca tinha feito antes. Não foi algo resumido a taninos, corpo e tudo o mais – eu simplesmente me permiti usar o tempo para sentir. Para estar realmente presente com os vinhos de uma maneira que eu nunca tinha me permitido antes, porque eu sempre tive um pouco de medo de acidentalmente me transformar em uma completa esnobe dos vinhos que incomoda todo mundo em uma ocasião com a sua avaliação exaustiva, egoísta e demorada de um vinho.

Eu estou muito grata pelo ambiente que o pessoal do The Vines estabeleceu desde o início. Eles deixaram cada pessoa à vontade no local e fizeram disso não uma experiência científica fria, mas sim um jogo divertido. Um jogo onde não há certo ou errado, e todo mundo ganha no final, afinal de contas... É vinho.

Nós formamos duplas, e eu acabei ficando com o meu noivo australiano que provavelmente estava se perguntando quando poderia conseguir uma cerveja gelada e acabar logo com essa loucura de vinho que ele vinha aguentando para me agradar durante toda a nossa viagem por Mendoza. Ele deixou claro que enquanto pudesse consumir qualquer vinho, pão ou queijo colocados na frente dele, as decisões de mistura eram todas minhas. Eu fui lá e testei cada um dos três varietais com os quais tínhamos que trabalhar e me recusei a pensar demais nisso. Eu simplesmente escolhi cada vinho e fui com confiança fazendo o que sentia intuitivamente. Eu sabia no instante em que falei ao enólogo sobre a minha fórmula que ele seria o vinho certo para o meu gosto. Pode me chamar de alternativa (e nesse momento eu quase me encolho de medo ao colocar essa palavra no texto), mas eu acabei me identificando com o vinho. Eu não estava fazendo ciência. Eu estava escrevendo a minha própria poesia. E pareceu libertador saber que eu não precisava da aprovação de ninguém além da minha neste projeto.

Ah, e sobre isso... Eu não vou mentir. Embora eu não precisasse exatamente da aprovação de ninguém, me estufei como um pavão orgulhoso quando a recebi. Quando fizemos a prova às cegas do vinho final de cada equipe, um se destacou. Alguns dos comentários sobre a degustação foram “vinho de um enólogo” e “quase sofisticado demais para um mercado comercial”. E foi aí que eu realmente me conectei com o meu vinho - porque eu estava muito orgulhosa dele. Eu me senti como uma criança que fez um desenho e quer que sua mãe o coloque na geladeira. Eu queria engarrafar esse vinho e o compartilhar com todos que eu conhecia, como se fosse um oferecimento. Um oferecimento de amor, de amizade e como uma forma de apreciar um momento especial e de poder me conhecer um pouco mais. 

Naquele momento eu realmente entendi o fascínio de ter um vinhedo privado. Todo esse negócio de produção de vinhos não era frio e chato. Na verdade, foi a experiência mais agradável e profunda que eu tive com o vinho há bastante tempo.

 

comments powered by Disqus